segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Andei ausente, bem sei. Acontece que alguma coisa em mim fez com que eu me fechasse como se casulo fosse. Cerrei os olhos pelo curto espaço de umas poucas semanas e, quando dei por mim, uma infinidade de borboletas bateram em revoada do céu da boca. Silêncio; um suspiro temporal. Mas não daqueles que empobrecem o espírito, não, não. Daquele silêncio gutural que reestrutura a madrugada, acomoda, acalma, shhhhhhhh, a cada noite que se passa. Se eu tivesse uma lua em meu bolso, eu me encheria de escuridão. E quem sabe um ou dois sapos coachariam em alguma lagoa. Foi com cuidado que arrastei minhas duas mãos da testa ao fim do cabelo, tendo o cuidado de cravar o dedos: não poderia deixar jamais que algum desassossego aqui ficasse. Com a maestria dos primeiros vaga-lumes que se atrevem a acender as primeiras luzes da terra, converti minha inquietude em nuvens de fumaça e soprei para que a noite as levasse numa brisa fria. E agora dois sapos coachavam ao fundo, confirmando que o silêncio morria de pouco em pouco com o galopar da manhã acobreada, que aproximava sem nada ninguém ver. Eu pouco enxergava, é verdade. Tirei do bolso a lua que outrora parecia ser minha e a esfarelei pelo breu do firmamento, em  uma inumerável centelha de pequenas estrelas itinerantes. Foi assim a história da noite que iluminei o incrível céu acima de nós. Antes que o sol enfim chegasse, a noite cravejou-se das constelações que já não se viam e,  tornou-se, por outro suspiro de tempo, palidamente, dia. Existe luz quando a procuramos. E as incontáveis borboletas agora retornavam com a minha resposta: as palavras em mim nunca morreram. Metamorfosearam-se.


Cristiano Guerra, que me traduz com as palavras.